Saturday, October 14, 2006

“Extrema-direita: populistas e nazis avançam na Europa”


A gerência deste blogue recomenda vivamente a leitura do dossier sobre a extrema-direita europeia que o Courrier Internacional (www.courrierinternacional.com.pt) publica esta semana. O rol abrangente dos textos oferecidos fornece uma interessante panorâmica da distribuição da nova extrema-direita pela Europa e consegue, em parte, explicá-la.

Ainda assim, fica a pergunta: como é possível que, em pleno século XXI os ideais xenófobos tenham tamanha aceitação em países ditos civilizados?

"Os Grandes Portugueses": Salazar?

A polémica estalou baixinho, mas promete subir de tom se os votos populares assim o justificarem: a RTP decidiu incluir o nome de António José de Oliveira Salazar (lui même: Salazar, o ditador do Estado Novo) na lista prévia de 197 nomes que os portugueses podem eleger como maior ícone nacional de sempre no programa genericamente chamado de “Os grandes portugueses”.
Confesso que não me choca.
O nome deste natural de Santa Comba Dão é, inegavelmente, e para o bem ou para o mal, um dos mais importantes do século XX português.
E merece ser votado. Para, mais de 30 anos depois do 25 de Abril, ser finalmente julgado e derrotado numas eleições, por todos os portugueses. Como se de justiça divina se tratasse.

Sunday, October 01, 2006

No Dia da Música recomendo:

Dia 24 de Outubro ofereçam-me “1970”, o primeiro disco a solo do genial JP Simões.

:p

Lula lá

Hoje realizam-se diferentes géneros de plebiscitos um pouco por todo o mundo. Brasil, Hungria, Áustria e Bósnia-Herzegovina vão às urnas, entre eleições presidenciais, municipais e legislativas…
De entre estas, importa reflectir sobre duas, pela diferença de reacções que se espera, por porte do eleitorado, ante situações relativamente semelhantes.
Na Hungria, o primeiro-ministro Férenc Gyurcsany arrisca ver a sua força politica sofrer uma autêntica “moção de censura” nas eleições autárquicas, após ter sido divulgada uma escandalosa gravação em que o primeiro-ministro admite ter mentido para ganhar as últimas legislativas. Os partidos da oposição (de direita) exigem mesmo que Gyurcsany se demita, caso a sua força partidária (de centro-esquerda) sofra uma derrota estrondosa nestes escrutínios locais. As nuvens negras continuam a pairar sobre Budapeste.
Ao mesmo tempo, essas mesmas nuvens negras parecem não saber o caminho para o Palácio do Planalto, em Brasília. Nas presidenciais de hoje, Luiz Inácio Lula da Silva é claramente favorito à reeleição (e pode mesmo vencer à primeira volta), apesar de ter visto o seu Partido dos Trabalhadores (PT) envolvido em diversos escândalos e manobras corruptivas (desde o “mensalão” ao recente “dossiêgate”).
Ante isto, a questão que se coloca é: porque é que, na Hungria, o eleitorado se prepara para punir Gyurcsany, enquanto, no Brasil, o “povão” está prestes a reeleger Lula?
Para lá do motivo óbvio (Gyurcsany assumiu a sua mentira, enquanto Lula ainda não viu provado o seu envolvimento directo nos escândalos do PT), a principal razão está na total identificação que o povo brasileiro tem com o seu actual presidente.
Lula tem a escolaridade mínima, foi operário metalúrgico, até perdeu um dedo num acidente de trabalho, e tudo o que conseguiu na vida foi conquistado a pulso. Apesar dos escândalos com que foi relacionado e da desilusão que pode ter provocado nalguns votantes, Lula foi o primeiro presidente brasileiro a preocupar-se realmente com os interesses dos mais desfavorecidos (e eles são grande parte das população do país da “Ordem e Progresso”). Lula até pode ter sido corrupto (no Brasil a característica parece intrínseca a qualquer politico), mas foi ele que implantou o programa Fome Zero, e foi no seu mandato que os rendimentos dos mais pobres cresceram 14,1 por cento (enquanto os dos mais ricos subiram 3,56).
Portanto, Lula é mais que favorito à reeleição porque, apesar de todas as imperfeições, o povo brasileiro se identifica com ele – tal como ele se identifica com o povo brasileiro.
Já na Hungria, Férenc Gyurcsány, multimilionário recém-interessado pela política (apesar de já estar a cumprir o segundo mandato), tentou forjar a perfeição e identificação popular. Esse é o seu maior pecado, e pode pagá-lo caro.
Enquanto isso, Lula não é perfeito, nem sequer tenta parecê-lo. E esse é o seu maior trunfo para permanecer mais quatro anos no Palácio do Planalto.

PS: Apesar das vitórias do primeiro mandato de Lula, o estreitar das diferenças abissais entre ricos e pobres foi conseguido, fundamentalmente graças a ajudas sociais. Importa pois que no segundo mandato se consiga fomentar o emprego e crescimento económico. Caso contrário, apesar dos remédios, não se conseguirá curar o mal de que sofre o maior país de língua oficial portuguesa.